Uma vez eu roubei uma rosa.
Foi assim. Todas as manhãs eu passava pela casa de janelas grandes e
grades altas onde rosas de todas as cores se entrelaçavam. Era dia
do professor e eu ficara de levar uma flor pra professora e logo
pensei nas rosas da casa de janelas grandes. Nessa noite meu sono foi
agitado e pela manhã acordei mais cedo do que o costume. Sai de casa
com o coração aos pulos, pois já via as rosas frescas, molhadas de
orvalho, delicadamente penduradas na grade. Escolhi a mais bela e me
espetando nos espinhos, cuidadosamente cortei a rosa. Linda.
Vermelha. Perfumada.
A
janela grande abriu e a dona da roseira gritou comigo furiosa. Eu
olhei e falei “É só uma” e segui meu caminho.
Quando
voltei da escola, mal entrei em casa fui agarrada pelos cabelos por
uma mãe furiosa e cheia de vergonha pelo roubo que a filha tinha
feito. Argumentei que “não era roubo”, que “a rosa ia morrer
em dois dias”, que a “professora tinha ficado feliz”. Não
adiantou: “era roubo”, “feio”, “não se mexe nas coisas
alheias”, “podia ter pedido”, “como olhar pra cara da vizinha
agora?”. Isso tudo entremeados a muitos tapas e pescoções.
Enfim,
isso me ensinou a não roubar rosas, a não mexer no que é alheio e
ajudou a me tornar uma pessoa capaz de se revoltar com os que o fazem
sem escrúpulos. É indigno, é nojento ver o que está acontecendo
com os recursos destinados ao combate à COVID-19 no Brasil. Roubar
dinheiro de máscaras, respiradores, EPIs, desviar recursos,
superfaturar são atitudes de pessoas que não têm escrúpulos, que
não foram educados a respeitar o alheio, que não tem empatia,
solidariedade, amor. Que só querem lucrar, mesmo que haja pessoas
morrendo em consequência de seus crimes. Que eles sejam denunciados,
punidos, fiscalizados por todos aqueles que aprenderam que roubar é
feio, vergonhoso - mesmo que seja uma rosa, linda, vermelha,
perfumada!
Marli Godoi
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